quarta-feira, 3 de junho de 2009

O fim da colher de pau ?


Decretaram o fim da colher de pau. Sim, a velha e boa companheira de tantas aventuras gastronômicas. Aquela a quem deveríamos reverenciar por tantos bons serviços prestados. Substituída impiedosamente pela espátula de silicone, fria, insossa, flácida e arrogante.
De uns anos para cá, começaram a acusar nossa velha amiga de ser a hospedeira dos piores vírus, bactérias altamente letais, fungos exterminadores. Tal alarde, obviamente propalou-se pelas cozinhas do mundo inteiro, originado, quem sabe, na indústria de espátulas de silicone.
Não abdicarei da minha fiel companheira. Não a descartarei, como se descarta um amor findo: friamente, abruptamente. Enquanto existir um átimo de romantismo na antiga culinária, erguerei minha colher de pau, em riste, e bradarei aos quatro ventos: “Ei-la!”, rainha dos ensopados, musa dos refogados, dama voluptuosa das sopas, dos assados, por ti daria a minha vida, em ti confio todo meu pseudo-talento.
“Anti-higiênica” colher de pau, contigo caminharei abraçado e, do alto, veremos a derrocada do silicone, futuramente substituído pela “haste de propileno” ou pelo “bastão de tungstênio híbrido”...
Não a deixarei só. Enquanto eu viver, você viverá, graciosa, na minha cozinha, quer mostrando toda sua destreza nas panelas da vida, quer repousando, cansada, ao fim do dia na gaveta que é seu lar e sua morada.

João Mario Fleury Corrêa

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